Friday, May 14, 2010

A Historia da Menina-Mulher (End)


Passaram-se semanas e Maria já sabia bordar, ainda não fazia um trabalho na perfeição, mas acreditava que um dia ia conseguir e ia realizar o sonho dela. Cada bordado que terminava era uma felicidade para aquela menina, os olhos delas transbordavam de alegria, tinha um brilho como nunca tinha tido.

Aos poucos foi conseguido vender os bordados, não era muito o dinheiro que lhe pagavam, mas ela continuava acreditar que ia conseguir.

Era Dezembro e ela já tinha conseguido juntar o dinheiro para a viagem a sua terra natal, foi então que decidiu pedir a Madre Superior autorização para ir festejar a Noite de Natal com a sua família que já não via há mais ou menos 7 anos.

A Madre ficou muito feliz por ela ter conseguido juntar o dinheiro e prontamente lhe disse que sim. Nesse momento Maria toda ela era felicidade, pulava de alegria como se tivesse recebido o melhor presente da vida dela.

Finalmente chegou o tão esperado dia, Irmã Rosa foi levar a Maria a Estação de Comboios mais próxima, naquele momento ficou assustada, pois nunca tinha andado de comboio sozinha, mas o desejo de abraçar os pais e irmãos era tanto que rapidamente pensou e disse “vou conseguir!!”

Aquela adolescente de sorriso nos lábios, estava ansiosa, mas muito cansada pois teve algumas noites sem conseguir pregar olho, sentou-se e deixou-se adormecer pelo balanço do comboio, Maria quando abriu os olhos, perguntou ao senhor que estava sentado ao seu lado “desculpe, o senhor pode-me dizer aonde estamos?, ao que o senhor lhe responde “menina mais 10 minutos e estamos a chegar a Estação da Campanha”.

Ela não queria acreditar e desatou a chorar “eu queria ir para Espinho, como me deixei adormecer, como? Não posso acreditar e agora como vou fazer? Não tenho mais dinheiro para conseguir regressar!!”; dizia enquanto soluçava sem parar, era dia 24 e não ia conseguir passar a noite de Natal com a sua família.

O simpático senhor ao ver o desespero daquela pobre criatura, tentou acalmá-la e disse-lhe: “tenha calma menina, vamos tentar resolver o seu problema quando chegarmos ao Porto”, ela sorriu e perguntou-lhe “sério"? Acha que vou conseguir ir passar a Noite de Consoada com a minha família???” recebendo um simples piscar de olhos.

Acabados de chegar ao destino, ambos se dirigiram para a Bilheteira e ele pediu um bilhete com destino a Espinho, Maria não queria acreditar que ia conseguir, começava a acreditar que este senhor era um anjo que Deus lhe pôs no caminho. Passaram 15 minutos e Maria começou avistar o comboio que a ia levar de volta a Espinho, o senhor alertou-a para ir com atenção e que perguntasse ao revisor qual a paragem em que havia de sair, e ela assim cumpriu.

Maria não queria acreditar que estava a pisar a sua terra natal, a terra que tinha deixado alguns anos atrás e que ia poder chegar a casa da família e abraçar os pais e irmãos..... “Que saudades!!!” ela não sabia se havia de correr ou caminhar, a ânsia cada vez aumentava mais, o seu pobre coraçãozinho batia forte como senão houvesse amanhã….”Cheguei” fez uma pausa para recuperar forças e questionou-se uma vez mais “desejei tanto este dia, estou a porta e não sei que fazer, será que me vão reconhecer, será que tiveram tantas saudades de mim quantas tive deles?”.

Após uns minutos de pausa, Maria ganhou coragem e decidiu bater a velha porta de Madeira , toc-toc… passaram-se segundos e alguém lhe abriu a porta, perguntando-lhe de seguida “ quem és tu?”, ela tremeu e respondeu “Sou tua irmã, a Maria, não te deves lembrar de mim, quando me fui embora tu ainda eras muito pequenina… e tu senão estou enganada és a Madalena, é verdade não é?” ao que a pequena Irmã lhe respondeu afirmativamente com um simples acenar de cabeça.

Ela não queria acreditar, estava no seu velho lar, na casa que a viu nascer, mas tudo lhe parecia estranho, entrou e dirigiu-se a sala aonde à família se preparava para começar a jantar. Seus pais não queriam acreditar, exultando “Maria és tu? filha que saudades que tivemos de ti, estás grande e linda” acabando por os abraçar, chorando compulsivamente.

Os irmãos não se recordavam dela, a excepcão do Manel, era o que tinha nascido a seguir a ela, Maria sentiu que nada era como dantes, sentiu-se sozinha, perdida e triste, aquele momento que esperava ser um sonho tornado realidade, transformou-se em pesadelo. Os pais não tinham tempo para se preocupar com ela, o tempo já não chegava para os 7 quanto mais para 8. Nem lhes passava pela cabeça os sacrifícios que a filha tinha passado, noites e noites sem pregar olho, sempre a trabalhar para manter uma família que afinal já não a conhecia, os pais só pensavam no dia em que ela tinha que regressar para continuar a sustentar a família.

Os dias foram passando e Maria começou a preparar o seu regresso ao trabalho árduo diário, guardou as poucas roupas que tinha dentro de um saco de serapilheira, dirigindo-se de seguida para a cozinha para almoçar… almoço esse que lhe soube a fel, provavelmente iria estar 7 ou mais anos sem ver a família…. Levantou-se da mesa, dirigiu-se à bacia com água, que existia à porta da cozinha, lavou as mãos e o rosto para tentar disfarçar as lágrimas que lhe corriam pela sua face!!! Maria dirigiu-se novamente à mesa e disse a todos “Bem…” fez uma pausa e com a voz embargada e para poder continuar a falar “está na hora de regressar… regressar ao meu mundo, vocês são a minha família, os pais e irmãos que Deus me deu, mas agora a minha verdadeira família está longe daqui”, limpando as lágrimas prosseguiu “Irei continuar a sustentar a minha família…..nunca vos irei deixar passar fome”, debruçando-se para apanhar o saco do chão e despediu-se de cada um com um beijo e um abraço. Abriu a porta e dirigiu-se à rua, começando a percorrer a longa estrada de terra batida, Maria foi incapaz de olhar para trás e despedir-se da casa que a viu nascer, agora sim tinha a certeza que era uma viagem para não mais voltar!!!


Ana

No comments:

Post a Comment

Sonho, porque o sonho comanda a vida....